quarta-feira, 26 de julho de 2017

Apesar do povo

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Nos alfarrábios políticos, explica-se que democracia é a forma de governo em que os membros de uma sociedade atuam como planejadores, autores e executores na elaboração política —a isto se dá o nome de democracia direta—, ou são representados por um grupo de pessoas que realizam essa elaboração por deputação —a este sistema dá-se o nome democracia representativa.
Como qualquer sistema político, a democracia contém inúmeras imperfeições em seus princípios filosóficos, sociais, de planificação e operacionais, em virtude do desenvolvimento dos partidos políticos, movimentos, grupos de interesses, redes sociais e outras instituições confluentes e influentes, e o fato dos valores defendidos por parte dos membros de uma democracia serem considerados, por eles, como de mais importância que a preservação da democracia como forma de governo, a aplicação do termo a qualquer Estado existente pode estar predisposta a críticas.
No seu Dicionário de Análise Política, Geofrey Roberts ensina que (...) pode-se, inversamente, alegar que o termo descreve a forma de governo até de Estados comunistas e totalitários, sob o fundamento de que as mudanças de relações econômicas encontradas apenas em sociedades comunistas constituem condição preliminar essencial de participação igual, na política, de todos os cidadãos. Assim, como categoria de classificação real, é menos eficiente que alguma forma de tipologia de governo baseado, por exemplo, no número de partidos políticos, no tipo de sistema eleitoral ou na forma de relações de legislativo e executivo.
Resumindo, democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo, apesar do povo. Diz-se que há uma democracia no Brasil, no país, porém, o sistema democrático começa na votação e acaba na apuração. Simples assim. No entanto, se a democracia neste país é relativa, a corrupção é absoluta. Na verdade, o Estado Brasileiro é, hoje, uma cleptocracia, até porque no Brasil, a Justiça é cega, o Governo é surdo, o Povo é mudo. E, pra completar, o legislativo é a ave de rapina que transforma a democracia em patavina —e a política é materializada por homens sem honestidade, sem ideais e sem grandeza, com as exceções de praxe.
Tem que, em Pindorama, a diferença entre circo e política é que no circo os palhaços estão no picadeiro, os gestores estão na bilheteria e o público está na plateia. Na política, o público está no picadeiro, os palhaços estão na plateia e os gestores se mandaram levando a bilheteria. Por conta disso, o maior problema da democracia por estas bandas é que a maioria não é democrata —aliás, a grande maioria do povo brasileiro nem sabe o que é democracia.
Se você perguntar pra dez pessoas o que é democracia?!, onze delas não saberão do que você está falando.
E o povo? Ora, o povo!...
De algum tempo para cá adotou-se, não só no Brasil, mas em boa parte do planeta, um esquerda volver! Por acá, um partido dito de esquerda assumiu o poder. Mas por conta de divergências e da adoção da corrupção como prática generalizada, o sistema não funcionou e o país andou pra trás. A esquerda não conseguiu implementar seus planos e agora precisa ser analisada sob dois ângulos: um positivo, pois estimula o despertar das massas populares inertes; por outro lado, implica risco de que a burguesia, alertada e temerosa, resolva agir preventivamente e restrinja ainda mais essa democracia. É importante que os partidos de esquerda, hoje perdidos num esforço eleitoreiro desgastante, mudem de discurso e de conduta. E que os partidos de direita abandonem o conservadorismo e o revisionismo.
Afirmar que há uma real e verdadeira democracia no Brasil é algo um bocado hilariante, embora seja trágico. Gente tida com inteligente, culta, séria, informada, afirma que há, "graças a Deus!", mas é complicado imaginar que desta forma possa haver uma conscientização política formadora de pessoas ativas e conscientes do interesse público (não se pode dizer que não há, mas que são poucos, ou melhor, raros). Contra os otimistas, entende-se que essa é a maneira por “excelência” de se fazer política no Brasil. E, se estiver certo, o que quer que exista aqui ou é contrário à palavra “democracia” ou tem outro nome, que ainda não se inventou. Na verdade, como país estamos longe da tão sonhada democracia. Temos é uma democracia estrambótica.

Luca Maribondo
lucamaribondo@uol.com.br
Campo Grande | MS | Brasil

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