Quando se é criança, aprende-se que “a mentira tem pernas curtas”. E a vida também ensina que emitir mentiras sucessivamente é o que permite o mínimo de equilíbrio social. A verdade é que a verdade é insuportável, insustentável e indigesta. Talvez seja por isso que existe um Dia da Mentira, celebrado em 1º de abril —o Dia da Mentira é o momento para se contar mentiras grotescas e outras mais críveis, além de criar as condições para a pregação de peças em parentes e amigos.
A origem do Dia da Mentira
possivelmente está relacionada com as mudanças no calendário propostas no
Concílio de Trento, em 1548, e implantadas pelo papa Gregório XIII em 1582. Nesse
tempo, o rei francês Carlos IX ordenou que, a partir do ano de 1564, o Ano Novo
fosse celebrado em 1º de janeiro, e não mais em 25 de março, o início da
primavera no hemisfério norte, como era a tradição na maior parte da Europa.
Havia, porém, uma grande
dificuldade na comunicação das ordens reais. Os meios de comunicação eram
lentos e as informações demoravam pra chegar a todas as partes. A ordem régia
só foi efetivamente cumprida em todo o reino francês em 1567. Isso explica o
motivo que levava algumas pessoas a continuar comemorando o Ano Novo em 25 de
março. Como algumas pessoas sabiam da mudança do dia da comemoração, passaram a
zombar das demais, que estariam comemorando o Ano Novo em um dia falso. A
partir daí, a prática foi difundindo-se, transformando o 1º de abril no Dia da
Mentira.
Com menor força, o Dia da
Mentira é comemorado até hoje em todo o planeta, notadamente no mundo
ocidental. No Brasil, a data tem um sabor especial em virtude da política e dos
homens que a exercem, ou seja, os políticos. Pode parecer um pensamento perigoso,
até porque deve haver um raro político sério e sincero. E pra um político mentiroso
ser eleito precisa do aval do cidadão eleitor. José Saramago já escreveu que “os
políticos são a mentira, legitimada pela vontade do povo!”. Falou e disse.
Os mais puritanos argumentam
que conhecer a verdade sempre trás mais chances de poder lidar com tudo da
forma mais acertada. Ainda que não pareça, as pessoas são muito mais fortes do
que aparentam. Assim, melhor optar por uma verdade que fere a uma mentira que
afaga. E com relação aos políticos, pode-se ter a certeza de maneira mais prática,
evidente e eficaz de destruir uma mentira na política é contar outra.
Ex-presidente da República,
Lula da Silva já afirmou, em julho de 2014, que “o povo aprendeu a distinguir a
verdade da mentira”, e continuou, enfatizando a ideia ao qualificar sua gestão
como “uma revolução social com a ascensão social de mais de 40 milhões de
pessoas”. Como se depreende da sua fala, Lula da Silva é ele mesmo um mentiroso
contumaz, apesar de não ser o mais mentiroso dos políticos brasileiros —a lista
é extremamente extensa pra publicar neste espaço.
Eu particularmente penso que não
há mentira: há apenas a insinuação do imaginário. Por isso, me abstenho de
comemorar o 1º de abril, o Dia da Mentira. Nesse dia, nunca prego mais peças e
petas do que no meu cotidiano exotérico.
Bom dia da mentira pra você, leitor.
Bom dia da mentira pra você, leitor.
Luca Maribondolucamaribondo@uol.com.br
Campo Grande | MS | Brasil
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