quinta-feira, 11 de março de 2010

[Língua dinâmica]

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Já não é uma arte. É uma brincadeira. A língua portuguesa está se tornando um pastiche de economês, politiquês, tecnocratês, jargões, modismos indiscriminados, estrangeirismos burros e gírias, que podem ser interessantes quando inventivas, que estão deteriorando e aviltando o idioma —há ainda a maldição do discurso politicamente correto, apropriado pela elite branca no poder como um instrumento para atacar a multiculturalidade, e que acabou deixando se ser politicamente correto.


Muitos analisam que a afirmativa é disparatada, mas a linguagem é o maior patrimônio cultural de um povo. Entretanto, as besteiras de um bando de pseudo-intelectuais, muitos deles aboletados em veículos de comunicação, apagam, eliminam, deturpam e fulminam palavras com a introdução de vocábulos que descaracterizam a cultura e, por extensão, o próprio homem.


Já faz tempo a linguagem escrita brasileira vem perdendo o bom estilo, a elegância e a criatividade —principalmente esta—, o que vem piorando sensivelmente por causa da Internet. A expressão acabada, disseminada pela embalagem e pelo rótulo nefando do clichê, do lugar-comum, da vulgaridade, domina a língua portuguesa do Brasil; enfraquecendo a nação culturalmente por esculhambar a originalidade da sociedade: muitos se encostam às frases feitas (notadamente o povo da mídia), aos discursos verbais improdutivos, às palavras torpes, escudados pela filosofia segundo a qual é mais fácil não usar os neurônios.


Essa sonolência é embalada pela Torre de Babel dos que deturpam, empobrecem, vilipendiam e desfiguram a língua portuguesa. Às vezes por subserviência, muitas vezes por negligência, outras tantas por pura ignorância, porque os deformadores desconcertam a linguagem com vocabulário modernoso; estonteiam o idioma com volteios lingüísticos alienadores; contaminam a ortografia com os espasmos do tanto-faz.


Exemplos disso são as idiotices tipo rebolation. Além desse tipo de bobagem, o inglês já invadiu nossos salões de beleza, restaurantes, a mídia, lugares de compras, na propaganda, no nome de grifes brasileiras etc. Assim, é comum se deparar com palavras ou expressões, como: beauty hair, saloon, coffee break, shopping, outdoor, selfservice, play, off, delivery, free etc. Isso é pura ignorância. Há que se combater a ignirância, porque a língua ainda é o que resta da cultura brasileira.


Esta, sim, é a riqueza do país. Uma raiz de todos, cujos frutos não podem apodrecer como apodrecem as palavras dos que adubam a linguagem qual fertilizam o poder, pulverizando-o com artimanhas como "rouba mas faz", "é dando que se recebe", "como nunca antes na história desse país", "um país de todos", "eu não sabia" etc. É assim que a língua se deteriora. Os desprezo pelo idioma começa nos meios de comunicação, e com a tendência repetitória acabam por dizer: "o povo consagrou" ou justificativas do tipo "isso acontece porque a língua é muito dinâmica", um argumento estúpido e imbecil.

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