domingo, 29 de novembro de 2009

_Pirata é a mãe! [ ]

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Aficionado de cinema, que no mais das vezes vejo em dvd, não consigo aceitar a boçalidade das campanhas contra os vídeo piratas insertas nos discos pela União Brasileira de Vídeo (UBV). E não tem nada a ver com defender a pirataria ou não (pirataria no Brasil é um problema cultural e este não é o assunto deste artigo) —tem a ver com lógica da comunicação.

A imagem do executivo de produtora com chapéu de cone ou orelhas grandes é estúpida e sem sentido. Partindo do princípio de que nenhum dvd pirata terá esse tipo de mensagens, e se gente assiste um dvd original (que você comprou ou locou certinho, dentro da lei), qual a razão de se colocar uma mensagem contra dvd pirata? Na verdade, só chateia que vê.

É óbvio que a mensagem está sendo veiculada para um público que já sabe das desvantagens desse tipo de produto. Não será através deste meio que as pessoas que compram o dvd do filme Piratas do Caribe, por exemplo, irão se convencer que dvd pirata é uma porcaria, pois quem comprou (ou alugou um dvd original) já sabe disso... O que mais impressiona é que essa lógica quase primária não é óbvia na cabeça de uns e outros que têm o poder de decidir a colocação dessas mensagens em um disco de vídeo. E com isso, os usuários têm que aturar essas produções baratas de quinta categoria antes de ver o filme que comprou ou alugou.

E pra piorar, como sempre, a grande maioria das mensagens insertas nos dvds (introduzidas antes do material principal) não possibilita o avanço ou que sejam evitadas de alguma forma —o controle remoto fica bloqueado. As produtoras e replicadoras obrigam os cinéfilos a assistir a baboseira anti-pirataria através do modo em que o dvd é autorado, sem a opção de avançar ou pular a mensagem!

Esse é o tipo de imagem de mau gosto que todo mundo está sujeito a ver nessa campanha contra a pirataria. Há casos definitivamente estúpidos, com filmes claramente voltados para crianças, que exibem imagens de violência e menção ao uso de armas e drogas (agressivas e de péssimo gosto).

Recentemente, questionada sobre a intenção da UBV em vincular a campanha para um público que já é esclarecido e que valoriza o original, a diretora executiva da UBV, Tânia Lima, disse que "a polemização foi fundamental para a divulgação da campanha. Tudo o que é morno é morto, não marca, é esquecido. O público de dvds que consome produtos originais, muitas vezes também consome produtos piratas, isto é fato, mas o que deve ser ressaltado é que o projeto não foi desenvolvido tendo como escopo apenas a inserção dos filmes nos dvds." A lógica da Senhora Lima é burra, pois a campanha só consegue aborrecer um público que já é fiel.

Toda vez que a filha de sete anos de idade de uma amiga quer ver um dvd, a mãe tem que desligar a tv por alguns minutos para que ela não seja bombardeada por essas porcarias que aparecem no início. Conheço gente que fez até cópia do dvd em dvd-r sem a presença das mensagens, para que seja mais fácil evitar este tipo de aviso idiota. Eu particularmente penso que que isso é parte do meu estoicismo diário.

Isso é absurdo. Se desejam veicular uma campanha inócua e mal produzida, que veiculem, mas deixem o consumidor decidir se quer ver ou não. Se essas produtoras querem se diferenciar em relação ao produto pirata, que invistam no produto original. Mas o que estamos vendo no mercado brasileiro de dvds brasileiro é justamente o contrário. Ao invés de ficar colocando essas barbaridades no início de cada dvd, quem sabe não seria mais inteligente oferecer ao brasileiro discos com extras mais adequados (legendados no mínimo), embalagens mais caprichadas (e não estojos molengos ou fininhos), dublagens clássicas, informações completas, sinopses bem escritas e bem traduzidas, formatos de tela sem mutilação, imagem de qualidade etc.

Enfim, seria mais efetivo adicionar coisas que realmente não sejam oferecidas pelo produto pirateado, pois essa guerra, da maneira que está sendo combatida pelas produtoras, a gente já sabe qual será o vencedor. A gente nota como as locadoras estão esvaziadas... E não é só por causa da evolução tecnológica, não. Enfim, pirata é a mãe!

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